Não é raro nos dias de hoje vermos a seguinte cena: em uma festa de crianças, tinham várias crianças na faixa etária entre 6 e 9 anos brincando em torno de cadeiras, a conhecida dança das cadeiras, e seus pais conversando para se distrair e, de vez em quando, olhavam para saber se estavam bem. De repente, um filho de 6 anos perde a brincadeira e vem chorando aos pés do pai pedindo que ele resolva aquela situação e o pai, ainda conversando com seus amigos, vai consolar o filho lhe dando uma nota de cinquenta reais para ele parar de chorar e parar. Em seguida, o segundo filho de 8 anos também perde a brincadeira e faz o mesmo comportamento que o irmão mais novo, segue em direção ao pai que o console também abrindo a carteira e dando uma nota de cinquenta reais e a criança também para de chorar.
Poderia fazer muitas análises com base em diversas teorias psicológicas do desenvolvimento sobre as motivações do pai que tem um comportamento dessa forma para com seus filhos, como também as consequências para essas duas crianças com um comportamento que evita sentir frustração e dor.
Mas, para você que lê agora, é óbvio a gente perceber o que isso vai fazer com essas duas crianças e como esse pai tem enormes possibilidades de sofrer com esses filhos que não estão aprendendo como sofrer uma das questões mais "naturais" da vida, porque a roda da vida não gira conforme nossos desejos, mas conforme a dinâmica dela mesma e mediante as decisões que tomamos para fazer essa roda girar.
A gente pode até fazer parte de uma geração que teve alguns percalços em nossa vida, mas mesmo assim, estamos tentando fazer com que nosso filhos e filhas não passem por isso, não sofram como nós, não se frustrem e aprendam que o mundo é um lugar lindo, feliz, sem dor, um perfeito conto de fadas e que eles terão sempre seus pais amados ao seu lado os protegendo de tudo e todos.Sim, como mãe também queria fazer isso, no entanto ao perceber que amor demais sufoca e não é amor.
E às vezes não faz isso por amor, mas sim, para se livrar daquele incômodo que o atrapalhava enquanto se divertiam com os amigos, e fazemos isso mais ainda com celulares e video game. A construção de uma sociedade extremamente fragilizada que não aguentam sentir dor porque não tem repertório de aprendizagem. Como reagir a uma frustração se nunca experimentou isso nas mais tenras brincadeiras, como serão fortes se nunca foram expostos a situações que iria aos poucos fortalecendo-os, como enfrentar as rejeições da vida, as perdas por luto, perdas em derrotas em notas escolares, em ser reprovados no ENEM, em levar um não de uma pessoa que estava paquerando, como vão conseguir sobreviver a isso se não sabem como fazer porque toda sua tentativa de passar por uma frustração sempre teve compensação (no exemplo acima o dinheiro).
Não quero aqui nem tratar da aprendizagem que toda dor pode ser amenizada pelo dinheiro, quero fazer um alerta a pais e mães e demais cuidadores sobre o fato de em nome de diversas crenças (amor, dedicação, cuidado, proteção) estamos criando sérios problemas para estas crianças, para nós pais e mães e para a sociedade como um todo porque seu filho está sendo tratado como um "rei" apenas na sua casa, em todo o mundo fora da sua casa ele é só uma pessoa comum.
Então, o que você está fazendo com você e o que você está fazendo com seu filho e filha? Que geração fragilizada estamos produzindo sob a égide da proteção? Uma geração que não foi submetida a situações comuns da vida que são frustrantes sim, mas que são necessárias para nos dar habilidades de como resolver outras situações que posteriormente venham a surgir.
Ainda dá tempo.
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